Você compra compulsivamente?
Com o objetivo de esclarecer as diversas indagações e dúvidas enviadas pelos nossos leitores quanto a diferença entre uma pessoa que compra compulsivamente para outra pessoa compra sem planejamento de forma consumista, convidamos a uma especialista no assunto, a médica psiquiatra Drª. Daianne Zaniol Rampazzo Caetano.
Graduada em medicina pela Universidade de São Paulo (USP), cursou residência médica em psiquiatria no HC de Ribeirão Preto, especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria, cursa atualmente especialização em Psicoterapia Comportamental e Cognitiva. Neste bate-papo ela nos explica de forma clara e objetiva os problemas causados pela oneomania/oniomania na vida dos compradores compulsivos e as formas de tratamento para a doença e a importância do apoio da família.
Então, confira nosso bate-papo.
Drª Daianne o que faz alguém ser uma pessoa que compra compulsivamente? Porque isso acontece?
Drª Daianne Z.: O transtorno de comprar compulsivamente, embora há muito tempo descrito e observado, só foi incluído em manuais de diagnóstico psiquiátrico na década de 80. E ainda assim, sem uma classificação específica. Faz parte de um grupo chamado “Transtornos do Controle dos Impulsos” que inclui diagnósticos mais recentes, como a compulsão pela internet ou pelo celular.
O início do transtorno de compra compulsiva costuma ocorrer entre o final da adolescência e início da idade adulta, período que coincide com o início da vida profissional e da liberação de crédito junto aos bancos, seja através de cartões de crédito ou cheque especial. A busca por tratamento, quando acontece, é um pouco mais tardia e a pessoa já está com sérios problemas financeiros.
Entre os estudiosos do assunto ainda não há um consenso sobre a natureza do transtorno, sendo que nem todos concordam que seja um descontrole de impulso. Alguns preferem classificá-lo como um transtorno de dependência por causa dos sintomas relatados, muito parecidos com sintomas da fissura por drogas e da abstinência química. Outro grupo acha ainda que deveria fazer parte do grupo dos transtornos obsessivo-compulsivos, por freqüentemente apresentar-se na forma de colecionismo ou acúmulo de coisas.
Como é possível detectar se uma pessoa é compradora compulsiva ou não?
Drª Daianne: Para diagnosticar uma pessoa que compra compulsivamente é necessário, em primeiro lugar, que esse comportamento cause sofrimento acentuado à pessoa. E esse sofrimento pode ser causado pelo grande tempo que perde comprando ou pensando em comprar, pelas enormes dívidas que se acumulam, sempre além do seu orçamento, e pelos problemas de relacionamento pessoal e desempenho profissional. É importante observar que não é o valor gasto que importa, mas o quanto isso representa para o orçamento daquela pessoa e, mais que isso, o tamanho do sofrimento que gera.
O comprador compulsivo considera irresistível qualquer oferta ou promoção, mesmo que seja de uma camiseta branca igual a outras 20 que ele tem no armário e nunca usou. Se tentar resistir ao impulso, pode apresentar ansiedade, taquicardia, sudorese… Frequentemente as compras são maiores do que ele pode pagar e as dividas vão se acumulando. O comportamento é freqüente e o indivíduo pode, depois de passada a euforia inicial, sentir-se culpado e desanimado.
Mas a confirmação deste diagnóstico precisa ser feita por um profissional, no caso um psiquiatra. Ele poderá, através da entrevista, detectar outros tipos de transtornos que podem cursar com comportamento semelhante, como é o caso de um transtorno bipolar, e até detectar transtornos associados ao comprar compulsivo, sendo muito comum um episódio depressivo secundário ao quadro.
Existe tratamento específico para essa doença? Quais são os tipos?
Drª Daianne: O tratamento pode ser feito com medicamentos, com psicoterapia ou ainda com a combinação dos dois. Um bom psiquiatra poderá avaliar as particularidades de cada caso e indicar a melhor opção. Cada indivíduo é único e o tratamento também deve ser individualizado.
Como a família pode ajudar a lidar com essa situação?
Drª Daianne: Antes de qualquer coisa a família precisa querer ajudar. É importante para quem tem esse ou qualquer outro tipo de transtorno, sentir-se amado e compreendido. Críticas e explosões emocionais não ajudam em nada, muito pelo contrário. A partir de um ambiente saudável em casa, cria-se espaço para diálogos, que favorecem a compreensão mútua. A família também pode e deve participar do tratamento, comunicando-se e seguindo as recomendações do médico e/ou psicólogo envolvido. Não adianta julgar a pessoa que sofre desse transtorno, ninguém se prejudica tanto porque quer. E ninguém poderá ajudar essa pessoa se achar que seu comportamento é falta de responsabilidade ou necessidade de chamar a atenção.
O que você aconselha para as pessoas que sofrem desse mal? E Quais as orientações que você dá para as pessoas que são compradoras compulsivas?
Drª Daianne: Procure ajuda profissional! A maioria das pessoas tem dificuldade em aceitar que precisa de ajuda e, quando o problema envolve falar com psicólogos ou psiquiatras, a resistência é maior ainda. Pense que quanto mais tempo você perder, mais dinheiro você vai perder, mais vai demorar para atingir seu objetivos na vida e maior será o desgaste nos seus relacionamentos pessoais, correndo o risco até de perder pessoas que ama. Também não hesite em aceitar ajuda de familiares e amigos, confie naqueles que lhe querem bem.
E para encerrar nosso bate-papo queremos que nos deixe um conselho sobre o assunto aos nossos leitores.
Drª Daianne: Muitas pessoas ficam endividadas porque têm dificuldades em controlar-se quando vêem um novo modelo de celular ou a nova coleção de sapatos daquela marca legal. Acham que “vai dar” porque é só mais uma “parcelinha pequena” e depois descobrem que ultrapassaram o orçamento do mês. Não quer dizer que é uma pessoa que compra compulsivamente.
A grande parte delas tem dificuldade para organizar-se financeiramente e, por isso, perdem a noção do quanto podem gastar naquele determinado mês. Por isso, busque orientações e informações, como por exemplo em um curso sobre educação financeira. Anote o que gasta, planeje-se. A organização fará toda a diferença e, com certeza, você viverá mais feliz e tranquilo.
Conclusão
Quero aqui deixar os meus sinceros agradecimentos a médica psiquiatra Drª Daianne Zaniol R. Caetano por participar desse nosso bate-papo e fornecer informações importantíssimas sobre como a importância do cuidado com o dinheiro e com a saúde.
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